Foi com algumas reservas que vi, finalmente, o No Reservations filmado em Lisboa. Quando vi nas notícias que o Anthony Bourdain vinha cá, comecei logo a imaginar onde eu achava que ele deveria ir. Se dependesse de mim, o chef arraçado de rock star não tinha falhado os pastéis de Belém e um bife à Trindade, pelo menos. Mas isso sou eu, que conheço pouco da restauração lisboeta. Mesmo assim parecia-me lógico ir a dois sítios tão icónicos. Não, vão optar por cenas mais modernas e passar uma imagem da Lisboa contemporânea, dos restaurantes novos, de sítios “da moda”… pensei eu, mal. Que grande desilusão ver este episódio da aventura culinária internacional do Tony a representar tão mal a nossa cozinha extraordinária. Não digo isto tanto pelos locais visitados. Certamente são muito bons, e até compreendo que os nossos chefs mais sonantes tenham aproveitado a deixa para divulgar os seu espaços. Mas, verdade seja dita, de tudo o que o senhor comeu, a única coisa que lhe pareceu agradar genuinamente foi uma bifana no pão com mostarda e uma imperial. Simples. Outra coisa de que ele também gostou foi da nossa morcela de arroz, que é mal apresentada, pois dizem que é típico do Norte, e eu nunca vi morcela de arroz sem ser na zona de Leiria. Mas o pior, dizia eu, nem foi a comida em si. O pior é a imagem que passa do nosso país e do nosso povo. Muito por culpa das pessoas que o acompanharam na visita. Fala-se demasiado na ditadura, nos tempos do Salazar, na Guerra Colonial… isso não tem relevância nenhuma na nossa vida hoje em dia! Por momentos pareceu-me que estavam num qualquer país da América Latina em reconstrução por uma guerra recente. Isso não nos define. Não somos assim, nem sequer nos lembramos disso! O Lobo Antunes cada vez me desilude mais: que pessimismo e total alheamento do presente! A Carminho ainda tentou animar a conversa, mas depois de explicarmos o fado, não é fácil contrariar a ideia de saudosismo e dor inata do povo português. Mesmo os mais novos só falam de crise, de dificuldades em vender música, em conseguir emprego… credo! Se não fossem as ginjinhas, o homem tinha saído daqui deprimido. Até sempre.
Foi mal gasto
Há 2 dias