Basta andar um pouco pela cidade para reparar. Por todo o lado surgem frases
escritas (mal escritas) nas paredes, que nem me atrevo a chamar-lhes
graffiti porque seria um insulto aos artistas que os fazem. Não sei bem
o que é, um belo conjunto de poluição visual, talvez. Lugares-comuns,
pensamentos que provavelmente se pretendiam profundos mas que na realidade são
verdades de La Palisse, escarrapachados pelas paredes, um pouco por toda a
cidade. No final destas pérolas de sabedoria, das quais me ficou na memória, por
exemplo, a da Av. Marquês de Pombal: “a ovelha negra não é que seja ruim, é
apenas difrente”, assim mesmo, com erros ortográficos e tudo, sempre a mesma
assinatura enigmática: P.H. Eu por acaso até conheço um PH, mas apesar de ter uma certa tendência para o
desastre, é um puto porreiro; e ponho as mãos no fogo que não é ele que anda a
escrevinhar pelos muros. É um trabalho demasiado extenso e intensivo, tanto mais
que há locais onde alguém já se deu ao trabalho de pintar novamente, só para vir
o “artista” e escrever por cima. Aqui artista está entre aspas propositadamente, diz que é assim para ter uma
conotação negativa. Sim, que esta personagem de artista não tem nada: nem as
letras são certinhas, nem é capaz de escrever uma frase a direito (tipo aluno de
escola primária que escreve pela primeira vez numa folha sem linhas e vai a
subir ou a descer, conforme a disposição nesse dia), nem diz nada de jeito, nem
sabe escrever, nem as frases são de sua autoria, nem um desenho bonito,
nada. A única coisa que tenho de admitir é que o senhor (senhora? Vamos partir do
princípio de que é um homem… só porque o instinto me diz que sim…) tem muito
tempo livre e muita persistência. Pelo “sotaque” de algumas frases até arriscava dizer que é brasileiro, ou
pelo menos de outra nacionalidade que não portuguesa. O que também explicaria os
erros ortográficos… ou não. Vamos lá ver uma coisa, P. H. (Paulo Horácio? Pedro
Henriques? Pancrácio Hilário? Patrício Hipólito? Pirolito Horta?) para escrever
coisas sem jeito nenhum que nos surgem na alma, ou repetir frases de pessoas
famosas como se fossem nossas, já inventaram o Facebook. Ou o Blogspot. Ou o
WordPress. Ou o Twitter. Não há necessidade de te fazeres passar por uma espécie de Banksy
WannaBe armado ao pingarelho com uma lata de spray que roubaste da
caixa de ferramentas do teu primo pintor de automóveis e bate-chapa na
Reixida porque na net tens tudo isso e ainda imagens bonitas que também podes
plagiar, tudo isto com corrector ortográfico automático para não pareceres tão
burro. Além do mais, nessas tuas incursões de vigilante-escritor estás sujeito a ser
apanhado e a alguém te obrigar a limpar/pintar as parvoíces todas que andaste
por aí a escrever, o que a meu ver era mais do que merecido. Por isso, vê lá se
atinas e se precisares de dicas para fazeres um blogue, manda-me um
e-mail: perolas.porcos@gmail.com , que eu tenho uma vasta experiência
em escrever coisas que não interessam nem ao menino Jesus, mas ao menos só crio
lixo electrónico. Até sempre. (Publicado a 18 Julho 2013)
Casa e Mundo. Ou Mundo e Casa. Tanto faz.
Há 1 semana