sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Preguiça#28: Quem és tu, PH?

Basta andar um pouco pela cidade para reparar. Por todo o lado surgem frases escritas (mal escritas) nas paredes, que nem me atrevo a chamar-lhes graffiti porque seria um insulto aos artistas que os fazem. Não sei bem o que é, um belo conjunto de poluição visual, talvez. Lugares-comuns, pensamentos que provavelmente se pretendiam profundos mas que na realidade são verdades de La Palisse, escarrapachados pelas paredes, um pouco por toda a cidade. No final destas pérolas de sabedoria, das quais me ficou na memória, por exemplo, a da Av. Marquês de Pombal: “a ovelha negra não é que seja ruim, é apenas difrente”, assim mesmo, com erros ortográficos e tudo, sempre a mesma assinatura enigmática: P.H. Eu por acaso até conheço um PH, mas apesar de ter uma certa tendência para o desastre, é um puto porreiro; e ponho as mãos no fogo que não é ele que anda a escrevinhar pelos muros. É um trabalho demasiado extenso e intensivo, tanto mais que há locais onde alguém já se deu ao trabalho de pintar novamente, só para vir o “artista” e escrever por cima. Aqui artista está entre aspas propositadamente, diz que é assim para ter uma conotação negativa. Sim, que esta personagem de artista não tem nada: nem as letras são certinhas, nem é capaz de escrever uma frase a direito (tipo aluno de escola primária que escreve pela primeira vez numa folha sem linhas e vai a subir ou a descer, conforme a disposição nesse dia), nem diz nada de jeito, nem sabe escrever, nem as frases são de sua autoria, nem um desenho bonito, nada. A única coisa que tenho de admitir é que o senhor (senhora? Vamos partir do princípio de que é um homem… só porque o instinto me diz que sim…) tem muito tempo livre e muita persistência. Pelo “sotaque” de algumas frases até arriscava dizer que é brasileiro, ou pelo menos de outra nacionalidade que não portuguesa. O que também explicaria os erros ortográficos… ou não. Vamos lá ver uma coisa, P. H. (Paulo Horácio? Pedro Henriques? Pancrácio Hilário? Patrício Hipólito? Pirolito Horta?) para escrever coisas sem jeito nenhum que nos surgem na alma, ou repetir frases de pessoas famosas como se fossem nossas, já inventaram o Facebook. Ou o Blogspot. Ou o WordPress. Ou o Twitter. Não há necessidade de te fazeres passar por uma espécie de Banksy WannaBe armado ao pingarelho com uma lata de spray que roubaste da caixa de ferramentas do teu primo pintor de automóveis e bate-chapa na Reixida porque na net tens tudo isso e ainda imagens bonitas que também podes plagiar, tudo isto com corrector ortográfico automático para não pareceres tão burro. Além do mais, nessas tuas incursões de vigilante-escritor estás sujeito a ser apanhado e a alguém te obrigar a limpar/pintar as parvoíces todas que andaste por aí a escrever, o que a meu ver era mais do que merecido. Por isso, vê lá se atinas e se precisares de dicas para fazeres um blogue, manda-me um e-mail: perolas.porcos@gmail.com , que eu tenho uma vasta experiência em escrever coisas que não interessam nem ao menino Jesus, mas ao menos só crio lixo electrónico. Até sempre. (Publicado a 18 Julho 2013)