sábado, 20 de julho de 2013

Preguiça#21: Memórias (in)Felizes

Há certas coisas que fazem parte das nossas memórias e que nunca deveriam sair de lá. Coisas que nos lembramos que eram bestiais e que, vistas à luz dos dias de hoje, são uma valente desilusão, para não usar um termo pior. No outro dia num dos meus zappings frequentes parei na RTP Memória a ver um episódio da mítica série portuguesa Duarte e Companhia (1985-89). Do alto dos meus oito anos aquilo parecia-me muito bem, uma série de detectives à portuguesa, com humor e com uma heroína feminina, a Joaninha, que deveria ser um exemplo de vida para todas as mulheres, com a sua coragem e destreza física. Lembrava-me de tudo, do genérico, do célebre 2CVs, dos nomes dos bons e dos maus, de tudo! Quase tudo, vá… não me lembrava que aquilo era tão mau. Que os efeitos especiais eram do mais básico que havia, que as piadas não tinham tanta piada assim, que o guarda-roupa era medonho e que aquilo espremido não dava grande coisa. Foi pena, preferia não ter voltado a ver e continuar com aquela sensação de que era muito bom. Já não é a primeira vez que isto me acontece. Quando era miúda passei horas da minha vida a jogar Golden Axe (1989) e aquilo era mesmo o tipo de jogo que me agarrava. Uma missão (salvar a princesa), coisas para ir apanhando pelo caminho, porrada e andar para a frente. Mais uma vez com uma personagem feminina que eu adorava, mas que nunca ninguém escolhia porque mesmo nos jogos de computador as personagens femininas tendencialmente são mais limitadas. Enfim… Por isso quando aqui há tempos vi uma edição adaptada para a PS2 não hesitei em comprar e saí da loja com o ar mais feliz do mundo, o ar de quem comprou um tesouro por menos de 10 euros e não disse nada a ninguém. Quando cheguei a casa até estava nervosa e fui logo experimentar, mas depois de andar meia hora naquilo, o sentimento de desilusão instalou-se, mais uma vez. Bonecos que só fazem três ou quatro movimentos quando é para andar à porrada e cenários miseráveis, depois de uma pessoa estar habituada por exemplo a um God of War, não satisfazem nem correspondem à imagem que eu tinha da coisa. E podia estar aqui a tarde toda nisto, se não tivesse mais em que pensar: as pastilhas Gorila gigantes, as bombocas, os desenhos animados do Tom Sawyer, os livros da Anita, o clip do Vitinho, enfim, um sem-número de memórias felizes que não devem ser remexidas para não corrermos o risco de as estragar. Recordar é viver, dizem, mas há certas coisas que só num determinado contexto fazem sentido. Ou então fomos nós que mudámos. Até sempre. (Publicado a 30 Maio 2013)