quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Da sinceridade in extremis

Ontem estava um senhor no House, coitadinho, que tinha um problema qualquer no cérebro (eu não estava com muita atenção, confesso...) que não lhe permitia mentir. Pior, não lhe permitia ocultar nada do que lhe passava pela cabeça. A boca dele parecia uma barragem com as portas abertas, no espaço de 20 minutos conseguiu insultar a filha menor, a mulher, os médicos e todos os que se chegavam perto dele. Pedia desculpa de 5 em 5 minutos, mas logo de seguida largava mais umas bombas que quase lhe custavam o casamento.

Deus (ou lá o que é) nos livre de ter uma doença assim. Porque há certas coisas que nos passam pela cabeça que não convém nada dizer em voz alta. É desnecessário e magoa as pessoas que nos rodeiam. Eu gosto de pessoas sinceras, mas há certas coisas que só se dizem se alguém nos perguntar e quiser mesmo saber. Olhar para alguém que está em grande sofrimento a fazer dieta há uma semana e dizer sem pudor que mais valia estar quieto porque não se nota nada, por exemplo. Dizer a um cliente que cheira mal e que tomar banho antes de vir invadir o local de trabalho dos outros é conveniente, outro exemplo. Há coisas que se pensam mas não se devem verbalizar. Lamento mas a sociedade é feita destes pequenos silêncios e convenções que fazem com que seja suportável conviver com os outros seres humanos sem nos apetecer espancar violentamente todas as pessoas que nos rodeiam. Um bocado como naquele filme do Ricky Gervais, "A Invenção da Mentira". A caricatura da sociedade sem mentiras nem travões na língua, tudo levado ao extremo e com um fundo pseudo-cómico. Não é um filme muito bom, mas a ideia está lá. Até sempre.