A língua portuguesa é muito traiçoeira, assim diz o ditado... A verdade é que mesmo dentro de um país tão pequeno há muitas expressões ou palavras que têm significados completamente diversos e podem gerar algumas confusões.
A primeira vez que me apercebi realmente deste "problema" foi na minha adolescência, quando me desloquei a Vila Nova de Gaia para uma espécie de estágio da selecção nacional. Digo espécie porque aquilo não era bem um estágio, era aquilo a que a Federação gosta de chamar de "detecção de talentos" e não se detectaram muitos, verdade seja dita... mas isso é outra história. Qual não é o meu espanto quando ouço uma colega do "Estrela Vigorosa" a reclamar, chateadíssima, porque a bola dela não "pinchava". Achei piada ao verbo "pinchar", apesar de não ter percebido o que aquilo queria dizer. O treinador também usava esse termo mas eu não tive coragem de perguntar. Pelo contexto fui-me apercebendo que as bolas não estavam bem cheias, logo... não saltavam. Pinchar... é lindo! Eu pincho... tu pinchas... hehehe...
Mais tarde, na Universidade, partilhava a casa com a minha grande amiga B. que era de São João da Madeira. Aparentemente o Norte do país é profícuo neste tipo de regionalismos... certo dia estava cheia de fome e comentei com a B. "Estou cá com uma traça!", ao que ela me respodeu: "Toma, eu tenho cigarros!". Fiquei a olhar para ela e ainda lhe respondi, incrédula, se queria que eu ficasse com uma úlcera no estômago!?! Aparentemente no Norte "traça" é uma forte vontade de fumar. Fartávamo-nos de rir, principalmente quando andávamos a cozinhar, parece que "sertã" é frigideira e "estrugido" é refogado. Mas há outras, "estrebuchar" não significa vomitar mas sim agitar rapidamente os braços... se bem que se pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas é difícil! Aprendi muitas coisas com ela, até fiquei a saber que um "passepartout" é uma moldura (não tenho a certeza da ortografia...).
Ao reflectir sobre este assunto chego à conclusão que mesmo com os meus primos de Lisboa acontecem destas coisas, para eles "sapatilhas" são sabrinas de ginástica, daquelas bem foleiras que acho que já nem se vendem. Tem de ser "ténis", para perceberem do que estou a falar. Eu, que apesar de ter nascido lá para esses lados, aprendi a ler em Coimbra, digo "coElho" e "abElha", enquanto que eles dizem "coAlho" e "abAlha", vá-se lá entender... E com a família algarvia também aprendi a dizer "marafado", que pode querer dizer zangado, irritado ou velhaco, conforme o contexto. E a expressão "Ah moço, má que jêto!" que também é genial!
Mas o mais engraçado para mim é mesmo quando estas diferenças linguísticas se notam dentro da mesma casa. O meu Pai é o maior nos portuguesismos e antiquismos! Não utiliza canetas, só mesmo esferográficas! Nunca anda de mãos nos bolsos... é algibeiras! Pode ter uma "panne" no carro (avaria) e enquanto resolve a situação vai ouvindo telefonia (em vez de rádio). Quando sai à noite gosta de ter um look descontraído e por isso veste uns "blue jeans" (calças de ganga) para ir à "bôite" (por mais que nós já lhe tenhamos explicado que "bôite" tem uma conotação negativa e que hoje em dia se diz discoteca). No outro dia também usou uma expressão bestial, ao referir-se a um colega que é gay afirmou que este era "raboné". Nunca tinha ouvido, mas acho que vou passar a usar, uma mistura de "rabeta" com "choné" mas sem ofender! Até sempre...
para não ficares triste, descobri uma espressões, que para nos são vulgarissimas, mas que saindo do distrito, E não é preciso ir muito longe, para deixerem de perceber o que dizimemos.
ResponderEliminaraqui vai:
lentrisca
estornicar
charéu ou xaréu (nunca sei como é)
a já referidas sapatinhas, so mesmo os cromos de lisboa para dizer tenis.
surribanço.
para já é as que sei.
Bem, este post é lindo, não tanto como eu, mas pronto. Destas palavras todas talvez só o estrebuchar venha no dicionário e queira realmente dizer abanar os braços, mas também o corpo, tipo ataque epilétrico. Traça também lá deve ver, mas referindo-se ao insecto claro, mas como o bué também já vem no dicionário, já não digo nada. Em relação às palavras "old school" utilizadas pelo teu papai são brutais :D
ResponderEliminartens de ver se ele também diz claxon em vez de apito/buzina. acho que vou tentar engatar miúdas com estas palavras antigas, só pa mostrar quem é que sabe...
Também vou passar a usar esta bela expressão " raboné". Já li o teu post há mais de 10 minutos e ainda me estou a rir com o mix.
ResponderEliminarmuitos beijinhos
MS
nunca pensei que tivesses aprendido tanto com os anos 60
ResponderEliminarestou orgulhoso!
BEIJOS
J. G.
ADOREI!!!
ResponderEliminarAs expressões do Norte são maravilhosas.E sabes que tambem ja as usei muito.Mas viver em leiria fez-me perder algumas caracteristicas :( Já digo refogado lá no Norte e a minha mãe olha para mim tipo: olha a esperta da minha filha hihihihi
Cabide_cruzeta
Cadeado_aloquete
Papo seco_ bijou
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