Dos animais de estimação e suas carolices...

Para mim existem dois tipos de pessoas: as que gostam de animais e as que não gostam. É obvio que dentro destes dois grandes grupos existem várias categorias: as que gostam-tanto-que-até-enjoa, as que gostam-e-tratam-bem-os-animais-sem-se-esquecerem-que-eles-são-isso-mesmo, as que gostam-mas-não-querem-ter, as que acham-que-gostam-mas-abandonam-à-primeira-dificuldade, as que não-gostam-mas-também-não-lhes-fazem-mal e ainda as que detestam. Estas últimas são as mais difíceis de compreender, se odeiam animais dificilmente podem gostar de seres humanos, que são, em última instância, animais também.

Eu cá sempre gostei de "bichinhos", nem sequer concebo a minha vida sem ter pelo menos um animal de estimação. Com preferência inequívoca por cães, não ponho de parte a possibilidade de vir a ter um gato, já tive tartarugas, ratos-marinheiros, pássaros, porcos da Índia, girinos que nunca chegaram a ser rãs, bichos-da-seda, peixes e até, imaginem, caracóis de estimação. Para alguém que não recusa um petisco de caracóis pode parecer no mínimo estranho reaproveitar uma gaiola de pássaros para criar caracóis, mas a minha tenra idade na altura justifica a estupidez do acto. Mais a mais, as grades da gaiola eram muito largas e os caracóis fartos das minhas folhas de alface, fugiram lentamente para outras paragens.

Do chamado "melhor amigo do homem", lembro-me vagamente da Sirita (arraçada de perdigueiro), a Laika acompanhou todo o meu crescimento e desenvolvimento pessoal (boxer tigrada) e agora tenho o Joaquim (boxer branco, considerado rafeiro pelos puristas da raça).

Por mim apanhava os cães abandonados todos e tratava deles, mas como não tenho espaço nem dinheiro para o fazer fico muito contente quando vejo exemplos como o da Associação Projecto Java.

Quando as "conversas de café" fogem para o assunto dos animais de estimação, é ver com gozo os olhinhos dos donos a brilhar enquanto contam histórias das peripécias e tropelias do seu "animalzinho". Normalmente são assuntos que dão para a noite toda, porque toda a gente tem a sua história para contar, e não contentes com as nossas, gostamos ainda de partilhar o que fez em determinada situação o gato da prima ou o caniche da vizinha.

O meu Joaquim já fez todas as asneiras e disparates que possam imaginar: roeu e rasgou o sofá da sala, destruiu a cama dele, roeu os cantos da mesa da TV e os puxadores das gavetas, destruiu vasos e plantas, desfez mais de 30 revistas em mil pedacinhos, já perdi a conta aos comandos de televisão de inutilizou, bebeu uma fritadeira cheia de óleo e de seguida andou a vomitar pela casa toda, roubou bifes de perú da bancada da cozinha e comeu-os ainda congelados, foge frequentemente para a lama e outros sítios sujos, destruiu 70% dos ornamentos da sala e só não destroi mais porque não tem acesso. É teimoso que nem uma mula, mas sabe quando faz disparate e parece que se quer vingar por o termos deixado sozinho. Mas eu continuo a achar que é o cão mais lindo do mundo. Foi quase sempre um auto-didacta, culpa da nossa falta de tempo para o educar. Mas senta-se, dá a pata, dá a outra, deita-se, faz de morto e com sorte ainda rebola (tem é de ser tudo por esta ordem...), ordens completamente superfluas mas que dão imenso jeito para impressionar as visitas.

São companheiros, amigos, bons ouvintes, melhores confidentes. Sempre prontos a receber um carinho ou a participar numa brincadeira. Quando ralhamos com eles, amuam por dois segundos, e depois voltam contentes e amigos na mesma. Não sabem o que significa a palavra rancor, só lhes falta mesmo falar (ou se calhar estão muito bem assim...). Por isso costumo dizer que quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais. Até sempre...