Ainda não consegui perceber se nos pedem dinheiro por ser Natal ou se é Natal porque nos pedem dinheiro. E quem diz dinheiro diz radiografias, pilhas, tampinhas, medicamentos fora do prazo, roupa, brinquedos, comida e de tudo um pouco para fins solidários.
Então e no resto do ano, pá? Tem mesmo de ser tudo agora? Ainda o mês passado fui ao pilhão, agora não tenho pilhas para dar... será que tenho de andar o ano inteiro a acumular cenas para me desfazer delas só na quadra natalícia?
E porquê? Porque nesta altura do ano as pessoas que precisam estão mais fragilizadas e mais conscientes das suas carências? Ou porque as que não precisam ficam mais generosas? Ou porque as remediadas recebem o subsídio e é a única altura do ano em que até poderão dar mais um bocadinho?
O Natal, pelo menos este, o solidário, devia ser mesmo quando o Homem quisesse. É que uma pessoa até gosta de ajudar, mas as solicitações são tantas e tão concentradas no tempo, que já dei por mim a ter vontade de mandar um pequeno escuteiro à fava, e ele até era bem fofinho. E a senhora da caixa do Continente a lembrar-me: "Deus queira que nunca precise...", depois de eu ter dito, já farta até aos olhos, que não, não queria ajudar a Missão Sorriso porque a Missão Sorriso também nunca me tinha ajudado a mim. Foi mau, eu sei... até sempre.
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