Legitimidade

A semana passada o assunto veio à baila por duas vezes em conversas com pessoas diferentes e por isso lembrei-me de vir aqui divagar um pouco sobre o assunto... quando não tinha filhos e tinha um cão, passava a vida a fazer comparações entre o modo de educar uns e outros. E logo os meus interlocutores com filhos me caíam em cima: não, porque não tem nada a ver, és maluca, só dizes isso porque não tens filhos, e blá blá blá. Tudo certo, mas agora que já tenho filhos já tenho legitimidade para dizer e digo: há muitas coincidências na forma correcta de educar um filho e um cão. Pronto, já disse, este post tem os comentários abertos, sejam meiguinhos, sim?

Não estou a falar de bater, privar de alimento, colocar trelas ou açaimes. Se acham que é assim que se educa um cão, façam um favor a vocês mesmos e ao mundo em geral, não tenham nem filhos nem cães. Nem estou a falar de ensinar a sentar e dar a pata, porque essas habilidades só servem para entreter as visitas e em termos práticos não melhoram em nada a vida dos cão ou dos donos...

Estou a falar de ser coerente, não deixar subir para o sofá só hoje porque o cão não vai perceber e vai achar que se pode subir hoje pode subir todos os dias. Estou a falar de passear com o cão, de o deixar correr em espaços abertos, de jogar à bola com ele. Estou a falar de o deixar cansar-se e ser feliz, para depois voltar a casa apaziguado e calmo. Estou a falar de ser carinhoso com o cão e explicar porque é que não pode fazer isto ou aquilo, de uma forma calma e assertiva. De criar e ensinar regras, que dão ao cão confiança na hora de decidir se pode ou não ter um determinado comportamento. Incentivem o convívio com outros cães ou mesmo outros animais domésticos (gatos, pássaros, peixes...) desde cedo, para que eles conheçam que há mais animais no mundo e que a diferença é uma coisa normal, a respeitar. Ensinem-nos a estar com outros cães, para não ficarem demasiado excitados se os soltarem no parque e estiverem mais 4 ou 5 cães a brincar... etc. etc. etc. Para mais informações é ver os programas do Cesar Millan, que ele é que é o especialista dos cães.

Eu cá não sou especialista, nem de cães nem de crianças. Aliás, o meu cão era até um pouco mal educado... Mas consigo ver muitas semelhanças na forma de educar correctamente uns e outros. E o meu ponto de partida é o de sempre: senso comum.

Um cão feliz não rói os móveis. Uma criança feliz também não. Pensem nisso. Até sempre.