Como é que eu vos hei-de explicar isto... o José Castelo Branco é como um acidente na auto-estrada, desculpem a metáfora, mas é o melhor que me ocorre de momento. Ninguém gosta, toda a gente acha horrível, mas depois todo o mundo pára para ver e se puderem ainda tiram umas fotografias com o telemóvel. A verdade é que apesar de ser uma personagem, o rapaz até é uma pessoa (mais ou menos) como outra qualquer. Se falarem com ele, ele corresponde de uma forma simpática e educada, malgré todos os seus "ais" e "uis" que já fazem parte da sua imagem de marca e da sua escolha de simplesmente ser assim. Se não lhe ligarem nenhuma ele também não chateia ninguém e por incrível que pareça até passa despercebido. Não passa mais porque, lá está, é abordado pelos transeuntes que puxam por ele e querem tirar fotografias e ele lá mete o sorriso n.º 36, o seu melhor ar femme fatalle e entra na brincadeira, que é o que as pessoas esperam dele (e é para isso que lhe pagam para aparecer em eventos). E por causa da imagem, claro.
Quando chegou ouvi a voz dele e reconheci-o de imediato. Passei por ele e disse boa tarde, como diria a qualquer outra pessoa porque os meus pais ensinaram-me assim. Ele respondeu boa tarde e olhou de soslaio para a minha tatuagem do braço. Fiquei a pensar: olha-me este... um homem espanpanante que se veste e se maquilha como se fosse uma gaja... e tem a coragem de olhar de lado para uma tatuagenzinha inofensiva, mais pequena e discreta que os saltos de agulha vermelhos que ele tem calçados... umpf...
A Betty também lá estava, muito lady, pois concerteza, do alto dos seus 84 anos, sentadinha como é normal para uma pessoa da sua idade, mas muito lúcida e surpreendentemente conversadora, no seu traditional british english irrepreensível. Ainda falámos um pouco sobre o negócio das agências de viagens em Portugal e sobre bebés, conversa de circunstância para encher chouriços, basicamente. Mas fiquei com a ideia que ela, no meio de toda a excentricidade e sentido de show em que vive com o seu marido permanentemente, não é parva nenhuma, nem está demente como muitos querem fazer crer. O José toma conta dela, é muito carinhoso e cuidadoso com a sua Betty, e ela agradece e corresponde com a sua presença e amizade. Há por aí muitos casamentos que talvez funcionassem melhor se fossem um pouco mais como o deles, pelo que me foi dado a entender.
Mas o ponto alto da noite (e da minha interação com esta estrela do jet set português) estava ainda para chegar... no meio da festa e da animação, com a música e as conversas a bombar, uma criança dormia um sono (pouco) profundo, num dos quartos do futuro Turismo no Espaço Rural. E uma mãe preocupada subia os 2 lances de escada de meia em meia hora para garantir que esta continuava a dormir. Numa dessas inúmeras viagens ao segundo piso oiço alguém na casa de banho a gritar um "socorro" pouco convincente. Pensei que era alguém na palhaçada e não liguei, mas depois já dentro do quarto continuei a ouvir o "socorro" e resolvi ver se era mesmo alguém em apuros. E era. O Conde. Ficou fechado na casa de banho, com a maçaneta na mão, e a bater com uma vela na porta. Ainda entrei com cara de má e disse: "Tenho aqui o meu filho a dormir!", mas depois percebi que o homem estava genuinamente atrapalhado e não era nenhuma brincadeira. Perguntei-lhe se estava bem, ele agradeceu e ficou por ali. Mais tarde veio ao pé de mim e disse: "Ai! Você salvou-me a vida!", com aquele geito drama queen dele, mas agradecido. E foi assim que do nada eu me tornei na salvadora do José Castelo Branco nessa noite surreal. Ainda há dúvidas de que a mim tudo me acontece? Até sempre.
PS: Não usei o vestido tigresse, mas só porque estava um frio que não se podia. Agora quando é que eu volto a um evento onde o possa usar... só lá para 2018...