terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Coisas da vida

Vivemos na era da comunicação. Estamos constantemente a ser bombardeados com informação de todos os tipos. Temos opiniões e temos direito a elas. Comentamos notícias, temos blogs, temos facebooks e twitters. Ficamos indignados e criamos correntes de e-mails, petições on-line, petições sem ser online, abaixo-assinados à boa maneira antiga. Somos seres informados e informamos quem nos rodeia, partilhamos notícias, damos a nossa visão do mundo e a nossa ideia de como deveria ser. Se alguém é morto do outro lado do planeta de uma forma macabra e com interesse (?!?!) mediático, isso torna-se rapidamente conversa de café, conversa de hora de jantar, conversa banal, trivial, onde todas as pessoas têm direito a falar de coisas que não têm a mínima noção de como aconteceram, em que circunstâncias e porquê. Toda a gente tem uma teoria e dois ou três culpados.
Ainda assim, adoptamos as posições dos macaquinhos sábios se uma pessoa idosa for assaltada ao nosso lado, na rua. Fazemos de conta que não ouvimos os nossos vizinhos do lado a discutir, apesar de termos quase a certeza que é um caso de violência doméstica recorrente. Ignoramos o carteirista no Metro, desde que não seja connosco, está tudo bem. Passamos na rua e presenciamos uma mulher a ser maltratada e agredida, mas encolhemos os ombros e seguimos o nosso caminho porque não é nada connosco. Ouvimos alguém a insultar outro e corremos a enfiar-nos dentro do carro, de preferência com o rádio aos berros. Não queremos ver, não queremos ouvir, não queremos ter de, mais tarde, eventualmente, ir testemunhar. Não é da nossa conta. Queremos mesmo acreditar nisto, para não arranjarmos problemas de consciência. Mas eu tenho uma notícia terrível para vos dar: a consciência é difícil de silenciar. Muito mais do que as pessoas.
Não podemos ser todos heróis e justiceiros de máscara, mas podemos agir com o que está ao nosso alcance e ajudar quem precisa e está mesmo aqui ao lado. Defender a verdade e deixar julgar a quem compete. Contribuir para um mundo melhor, se ainda acreditarmos que é possível. Porque há alturas em que podemos encolher os ombros mil vezes e continuar a andar em frente, ainda que a custo, mas nem por isso os problemas desaparecem. Porque são nossos. E o nosso inferno pessoal é sempre o pior de todos. Até sempre.