As crianças são cruéis. São o melhor do mundo, mas são cruéis. Ainda mais umas com as outras. Um destes dias falávamos dos filhos de um casal gay que conhecemos. Só conseguimos imaginar o que aquelas crianças têm de ouvir na escola. Por mais esclarecidas que sejam, os outros todos certamente não são.
A escola onde andei mais anos da minha vida (que odiava e ainda odeio do fundo do coração) ensinou-me a ser a pessoa que sou hoje. A escola não, as pessoas. E agora que penso nisso eu até devia de estar agradecida e dizer-lhes isso, mas já nem sei quem são. Ensinaram-me que a opinião dos outros não é importante. Principalmente se for má. Consolidaram a minha atitude de "ser assim".
Se eu não fosse "assim" tinha inventado dores de barriga para não ir à escola. Mas eu ía na mesma. E ouvia tudo: nariz arrebitado, girafa e Miss Piggy eram as menos ofensivas. Sim, que as crianças são cruéis mas felizmente têm pouco vocabulário, mesmo quando já não são tão crianças assim. Aprendi a arrebitar ainda mais o nariz, aprendi a olhar em frente, a fazer de conta que não estava a ouvir, aprendi a caminhar segura, aprendi que para muitas pessoas isso só confirmava que eu era de facto uma grande parva, aprendi a chorar em casa.
Anos mais tarde percebi que as atrocidades que ouvimos na vida podem ser apreendidas de duas maneiras, e como as depressões são só para quem pode assimilei tudo como reforço de uma auto-estima que aprendi a cultivar. Ter auto-estima não é "ter a mania", é ter força interior para viver a vida de uma forma saudável e descomplexada. É apreciar quem nos mima e ignorar quem nos magoa. É superar as vicissitudes da vida com um sorriso nos lábios e a certeza de quem somos. É sermos melhores. Ou como dizia um amigo meu: "Bom?! Eu não sou bom! Bom é o meu pai, eu sou espectacular!" Até sempre.