"Vendo-as tão próximas, atentas ao seu trabalho, sem pintura nem penas de pavão, tão simples e sem adornos, mais nuas do que se estivessem nuas, Dorigo compreendeu então, repentinamente, o seu segredo, a razão por que através dos imemoráveis séculos as bailarinas foram o verdadeiro símbolo da fêmea, da carne, do amor. Compreendeu que a dança era um extraordinário símbolo do acto sexual. A ordem, a disciplina, a férrea e mesmo cruel posição a que os membros eram obrigados em movimentos difíceis e dolorosos, o facto de obrigar os jovens corpos virginais a fazer sobressair as mais recônditas promessas em posições extremamente tensas e abertas, a movimentação das pernas, do torso, dos braços nas suas máximas possibilidades: tudo isto para a satisfação do macho, a quem as bailarinas se abandonavam com violência, sofrimento, suor. E a beleza residia precisamente nesse apaixonado e impudico abandono. Sem que tivessem disso a mais pequena suspeita, era uma autêntica exibição, uma oferta, um convite à conjugação sexual. As bocas entreabertas, as brancas e suaves axilas afastadas, as pernas abertas até ao espasmo, o peito oferecido no acto de holocausto, lançando-se quase nos braços ardentes de um invisível e insaciável deus. Com uma sabedoria genial, os grandes coreógrafos estilizavam o fenómeno sexual e atitudes aparentemente castas e admitidas por todos. Mas dentro delas habitava a violência. Assim, para quem soubesse ver, uma sequência de passos clássicos possuía de longe uma força muito maior do que a lúbrica dança do ventre de strip-tease de um night. Eram coisas que naturalmente ninguém ousava confessar a viva voz ou escrever, por causa da geral e insensata conjura da hipocrisia que esconde o mundo do amor.
A dança - descobriu Dorigo - não era mais do que um desabafo lírico do sexo: o resto não passava de cenário e estupidez. As grosseiras e lascivas ofertas sensuais das prostitutas dos prostíbulos resultavam numa ridícula comédia em comparação com os alusivos e maliciosíssimos gestos das bailarinas, que penetravam no mais profundo da alma. E quanto mais excelente for uma bailarina, quanto mais audaciosas, perfeitas, ligeiras, harmoniosas, acrobáticas forem as suas exibições, tanto mais intensa, em quem a contemplar, é a vontade de a abraçar, de a apertar, de a apalpar e acariciar especialmente nas coxas e de finalmente a possuir." Dino Buzzati in "Um Amor"
Por isso: aprendam a dançar meninas!
ResponderEliminarlol ;)
@ MJ
ResponderEliminarAhahahaha! Não era bem essa a ideia, mas ok, pode ser... o mais giro é que eu e tu e provavelmente muitas outras pessoas já tinham pensado nisto mas se o quisessem explicar (ainda mais por escrito) não saía tão bem. É a força das palavras. Beijinhos! :)