Sim, sim... aquele programa da Teresa Guilherme!
Depois de uma discussão filosófica até às 06 da manhã sobre o assunto com uns amigos, eu, que nem gosto de falar do que não sei nem nunca vi, resolvi que ontem tinha de ver o programa. E assim estive o que me pareceu uma hora agarrada à mini TV da cozinha a ver a Teresinha a andar em telhados de vidro. Eu explico, o "momento da verdade" era para a concorrente, mas a apresentadora meteu-se a geito para ser agarrada num beco escuro e tropeçar numa pedra da calçada, no entanto aguentou-se muito bem. A concorrente que quis vender os seus segredos mais íntimos por 250 mil euros era cigana. No prime time da TV portuguesa ouviu-se como nunca antes as expressões etnia, raça, ciganos, tradições, hábitos, etc. Já se tinha ouvido antes, mas no telejornal e em tom de crítica, depois de uma notícia sobre um assalto ou uma operação relâmpago da ASAE ou assim. Por isso é que eu achei que a T. G. esteve bem, andou ali e tal e coisa, chamou as coisas pelos nomes, mas sem ofender ninguém e sem se colocar numa posição desconfortável. Apesar de não perceber quem é que se sujeita a passar por aquilo, seja porque dinheiro for, achei muito interessante. Pelo menos do ponto de vista antropológico ou psico-social ou qualquer coisa assim do género.
A história do "Romeu e Julieta" dos tempos modernos: rapariga cigana prometida desde miúda a um noivo cigano imberbe, foge de casa para ir casar com um rapaz não-cigano e têm o apoio da sogra. As famílias não se podem ver. Tinham 17 e 18 aninhos, respectivamente, mas mesmo assim ela não hesita a responder à pergunta para não-sei-quantos mil euros "arrepende-se de se ter casado com o XPTO?" - "Não." E o polígrafo com voz-off de trovão e ar proféctico: "Esta resposta é... verdade". Tudo bate palmas, espectacular, portanto!
Assim como bateram palmas ao facto de a rapariga ter admitido que já tinha roubado, que estava desempregada mas na verdade não estava à procura de emprego, que o marido já lhe tinha proposto sexo em grupo e que já se tinha sentido sexulamente atraída por um amigo do marido. Tudo bom, portanto! Um público fácil de contentar e com conceitos morais pouco definidos. Mas a verdade verdadinha deste momento da verdade (passo o pleonásmo) foi que a rapariga se veio embora com 100 mil euros (cá na terra já dava para comprar uma casita) e não respondeu à última pergunta (para 250 mil euros) que provavelmente, e pelo andar da carruagem, lhe teria custado o casamento e o resto do respeito que o pai ainda lhe teria, depois de tudo o que disse.
A mim sinceramente não me chocou o tipo de perguntas, nem as respectivas respostas. Mas temos de contextualizar, estava lá o pai e a sogra, bem como um irmão menor que parecia não saber ler (e não era tão menor assim). A rapariga admitiu já ter escondido a sua etnia e ter abandonado algumas das tradições ciganas. Admitiu já ter tido, ao longo da vida, vergonha dos pais... eu não conheço muito bem a cultura cigana, mas a julgar pela maneira como o pai revirava os olhos e se agitava na cadeira não deve ter sido agradável. A certa altura disse: "Já estou arrependido de ter vindo..." e ainda "Depois disto mais vale ir até ao fim, já disse tudo..."
Uma nota, não vou perder mais horas da minha vida a ver aquilo, mas agora já posso falar com conhecimento de causa. É mais um caso de "circo humano" que a T. G. tanto aprecia e os espectadores portugueses parecem nunca se fartar. Ver as mentiras e as desgraças dos outros, o podre mais apodrecido de cada ser humano ao sol, e eles sempre à espera que a próxima pergunta seja mais sórdida ainda. Enfim, qualquer coisa serve para esquecermos os nossos próprios problemas e embarcarmos na telenovela da vida real dos outros.
Ainda assim ficamos a pensar... 20 perguntas intrometidas, 20 respostas validadas como verdadeiras por um polígrafo e 100 mil euros de recompensa... nada mau. Há quem tenha ganho menos a responder a mais perguntas de cultura geral. E a concorrente era tudo menos burra. Até sempre...
O dinheiro muitas vezes leva as pessoas a fazer coisas muito ridiculas.Expôr assim a vida nesse programa é um desespero,isso ou as pessoas não sabem ao que vão!
ResponderEliminarBom,eu conheço o programa,na versão americana.O aprsentador nao é tão emotivo,os concorrentes são mais parvos!
Entre os programas todos que já vi.. VOLTA JOGOS SEM FRONTEIRAS :D
Beijo***
Diz-se que se todos conhecêssemos os segredos uns dos outros, ninguém se cumprimentava na rua. Há coisas que não se partilha nem com as pessoas mais próximas. Por não haver interesse, mas principalmente porque não seria correcto e seria até cruel fazê-lo.
ResponderEliminarMas também acho que se as pessoas se querem prostituir, de livre e espontânea vontade, devem ter total liberdade de o poder fazer.
E só consome quem quer.