segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dos professores que me marcaram e outras patetices...

O ensino em Portugal é sempre um tema polémico, mas há que admitir, apesar de tudo, que ainda há pessoas que nasceram mesmo para ser professores e são marcantes para os seus alunos (outras nem tanto...).
Agora que os tempos académicos já lá vão, quando revejo o meu percurso escolar só me lembro de algumas pessoas que me marcaram, para o melhor e para o pior. Se não vejamos...
Comecei a estudar na Escola Primária n.º 2 de Celas, se é que se pode chamar escola a um antigo mosteiro abandonado com um pré-fabricado no meio de um páteo antigo. As salas, antigas também, eram as de uma verdadeira escola primária. A janela de vidros aos quadradinhos fazia sonhar e o aquecedor era daqueles que ficam cor-de-laranja quando estão ligados. Da professora lembro-me que se chamava Júlia e era muito alta. Saía de 20 em 20 minutos para fumar o seu cigarrito e voltava sempre com aquele cheiro misto de rebuçados de mentol e tabaco. Uma querida, mas o tempo em que saía para fumar fez falta para ensinar algumas coisitas. Na 4ª classe cheguei a essa conclusão: vim para a Escola Primária dos Capuchos e chorei copiosamente quando a professora me chamou ao quadro e eu nunca tinha ouvido falar na "prova dos 9". Ainda hoje não sei como se faz, tal foi o trauma! Essa outra professora ainda a vejo, de vez em quando, na rua. Dizem as más línguas que desde que ficou viúva está mais nova, e o que é certo é que anda sempre toda "na-última-moda", "acabadinha-de-sair-do-cabeleireiro" e cheia de jóias (reformou-se e ficou com a joalharia do marido). Ensinou-me num ano tudo o que a Professora Júlia não tinha tido tempo por causa dos cigarritos...
Do ciclo pouco me ficou... uma professora de Educação Física brasileira que insistia em me chamar "Ana Gômisss" e em usar sapatos de salto alto com fatos de treino; uma professora de Geografia que certo dia não foi dar aulas porque partiu o salto do sapato; um professor de Educação Visual que cheirava tremendamente mal da boca e uma professora de Inglês que certo dia me disse com maus modos que se eu não estava contente podia sair porque não tinha aulas para alunos superdotados! Superdotados?? Não é preciso ofender só porque eu estava a fazer as palavras cruzadas nas páginas mais à frente do livro! Recordo com saudade e amizade o professor de Inglês que comemorava o Pancake Day e levava músicas para as aulas tocadas por ele à guitarra. Não me recordo do nome... Luís Filipe... acho eu...
A passagem para o liceu foi uma benção! De volta às escolas antigas, com história, com cadeirões e palcos para os professores, como mandam as regras! Quem pode alguma vez esquecer a Professora Amélia Pinto Pais que recitava Camões e Fernando Pessoa como niguém! Vivia para dar aulas, adorava o que fazia e dava gosto o gosto que ela tinha por esses autores. Só ajudou a apurar o meu gosto pela leitura e pela escrita. Já tinha sido professora da minha irmã e também já se reformou. A Professora Teresa, de Francês, mais do que ensinar francês ensinava-nos a ser boas pessoas. "Têm frio? Podem estar de luvas e de gorro que eu não me importo..." Uma querida, nos dias de teste trazia dois rebuçados para cada um e no dia do exame nacional lá estava ela à porta, para nos dar os tais rebuçadinhos e desejar boa sorte! Tive um professor de Filosofia que não tinha uma das mãos e outro que achava que a Filosofia era como a matemática (?!). Um professor de Psicologia que chama toda a gente por diminutivos (ggrr...) e um professor de Oficinas de Expressão Dramática que não passava de um ex-actor frustrado e tentar dirigir uma companhia de malucos. Uma professora de Latim velha como a língua que ensinava e intragável como as declinações que explicava. E por fim a Professora Alllllcina, de história, que era de Pomballllll e pedia todos os dias para abrirmos o llllllivro numa qualquer página desinteressante.
Do liceu para a Universidade só piorou, a escola era velha na mesma, o antigo Magistério Primário e sem obras, a maravilhosa "Escola Superior de Educação de Coimbra". Em quatro anos apenas uma professora competente: Rosário Borges. Sabia do que falava e obrigava-nos a saber também. Mal amada, como todos os professores exigentes, mas muito profissional. Depois tinhamos sempre o professor de contabilidade que falava dos velhos tempos em que esteve na tropa no quartel da Cruz da Areia, de futebol e das suas aventuras na Bolsa de Valores; uma professora não-sei-de-quê que estava sempre grávida; uma professora de marketing que achava que "nós tinhamos todos a mania que éramos muito bonitos" (se calhar até tinhamos, mas o que é que isso interessava para as aulas dela?) e que confrontada com a pergunta "Ó professora... o que são sinergias?" depois de ter estado 40 minutos a usar essa palavra, meteu os pés pelas mãos e terminou com um esclarecedor "Fica a ideia!". Lembro-me vagamente de um professor de psicologia que fumava SG Gigante nas aulas (dentro das salas) e que cada vez que se referia a um livro escrito por ele nos pedia para o comprarmos se quiséssemos contribuir para o cancro de pulmão dele. Nunca contribuí, não quero esse peso na minha consciência... Também me lembro vagamente de um professor de gestão hoteleira que disse numa turma onde 85% dos alunos eram gajas que para ser recepcionista num hotel não é preciso ter nenhum curso, basta ter uma carinha laroca... Foi na primeira aula, nunca mais lá fui, mas disseram-me que os comentários machistas eram uma constante.
Vai assim o ensino em Portugal, ou pelo menos no meu Portugal. Não há dúvida que a melhor escola é a da vida, mas a outra também pode ser bem engraçada. Até sempre...

10 comentários:

  1. Boa noite.

    O maior disparate no nosso Ensino são os métodos pedagógicos inválidos, introduzidos há 30 anos. Na consequência disso, 80% dos nossos alunos acabem a Escola ignorantes e iletrados.

    Os pormenores estão aqui.

    Cumprimentos, J.C.

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  2. Lololololol..mas os melhores comentarios são mesmo ouvidos em fase adulta na faculdade :D

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  3. acho que tivemos o mesmo prof. de ingles. era bem porreiro e tava sempre a dizer, capisco. (italiano para "estão perceber")

    mas sim tive professores que nunca o deviam ter sido e tive outros que ainda hoje digo que foram os melhores que ja tive, passo a citar, no 9º ano: luis alho, prof de matematica, no secundario, Francisco Marques, geometria e oficia de artes, e na universidade, quase todos, se não todos eles pois eramos um grande familia.

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  4. Nunca compreendi bem as dificuldades de ser professor. Mas hoje tenho um marido que o é e ele próprio diz que as coisas já não são o que eram...(boas!) Tipo: 3 meses de férias mais a interrupções normais de Natal, Páscoa e Carnaval; apenas cumprir o horário que leccionavam; os programas serem os mesmos de há não-sei-quantos anos;...enfim, com a instabilidade politica e todos os partidos a quererem mostrar trabalho a taxa de alunos baixou, a taxa de insucesso escolar aumentou, o desemprego na Educação também, escolas fecharam, etc.
    Os direitos são cada vez menos e os deveres cada vez mais, os salários os mesmos e não há progressão na carreira docente!
    POR FAVOR SR. PROF. LIVRE-SE DA FAMA E RECUPERE O PROVEITO!!!
    P.S.:Os que não são bons professores façam o favor de escolher profissões extra-curriculares. Ainda não há um sistema justo de avaliação de competências.

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  5. e mais...os meus professores eram quase todos bons...excepto os das disciplinas que eu não gostava ou não tinha jeito!
    Excepto uma de Matemática que me ensinou pacientemente o B-A-BA de anos anteriores assim como um de Estatística que na faculdade teve o bom sensi de dar o programa do 10º ao 12º ano a uma turma de alunos vindos maioritáriamente de Humanisticas!!
    A pior de todas foi uma de Contabilidade que disse e passo a citar " os meninos são todos burros! Isto é mt simples..."Mas depois da explicaçao ficámos todos na mesma. E só fiz essa cadeira em época especial com o recurso a explicações!!! (Vá se lá saber porquê...;)
    De resto, todos nós tivémos um Prof de História ou Filosofia que fumava nas aulas.No meu caso foi um de História que era um Excelente professor e excelente pessoa, apesar dos seus defeitos como humano (gostar demasiado de cerveja e cigarros)Deus tenha a sua alma...
    E um de Psicologia que parecia saído de uma enfermaria dessa especialidade e que de psicologi tinha muito pouco. Ex: O Teste de Avaliação Final era o mesmo que estava no Manual Escolar e que tinhamos estado a preencher e a corrigir na aula de Revisões!?!
    Enfim, até as aulas de Religião e Moral forma importantes na minha formação. De religião não se falava nada, mas a moral era importante no relacionamento inter-pessoal e no convivio.
    e para finalizar não posso deixar de prestar a minha homenagem à Prof. Amélia Pais, pelo gosto que fomentou em mim pela leitura.Nunca esquecerei o teatrinho acerca do "Auto da Barca do inferno" de Gil Vicente!
    Those were the days.
    Obrigado aos bons e maus Profs pois todos eles contribuiram para a pessoa que sou hoje!

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  6. Esqueci-me da "Religião e Moral", mana, tens razão... ou não... A minha professora de Religião e Moral era uma meia-freira-armada-em-professora que um dia se lembrou de mandar fazer um trabalho qualquer daqueles em cartolina foleira cheio de recortes e pedacinhos de lã. Fiz isso com a minha companheira da altura R. Coimbra e deixámos as colagens a secar em cima da cama. A minha cadela não gostou e desfez aquilo tudo. Quando disse o que se tinha passado à professora começaram todos a rir e ela mandou-me para a rua (foi a primeira e a última vez que fui para a rua!!!) por ter dito a verdade. Nunca percebi que moral era essa: dizes a verdade e és castigado! Hehehehe!!

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  7. Impressionante! Como é que é possível recordares-te de tanto!! Eu não tenho assim grandes memórias de professores, mas há uma, que ainda hoje pergunta à minha avó por mim, deu-me a 1ª e 2ª classe, em Almodôvar, e já tinha sido a professora da primária da minha mãe! Dela nunca me esquecerei... Depois há outra, do 12º ano, de Física (nomes não sei!) que dava as aulas como se fosse a falar para ela própria, e tipo corridinho, ninguém percebia ou entendia o que quer que fosse que ela estivesse para ali a dizer... nem sei como é que passei com 10 (ou 11)! De resto, lembro-me das caras, mas nomes e situações mais marcantes, não, nada!

    P.S.
    Não sei se sabes, mas gosto pela leitura é coisa que não tenho, se calhar porque não tive ninguém que despertasse isso em mim, no entanto, adoro vir ao teu blog de vez em quando ler o que escreves. E estava "bué" desactualizada! LOL

    Mas hoje deu-me gosto ler tudo o que tens escrito.

    Continua assim ;)

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  8. Ó amiga Sheila!Fico muito satisfeita por te aguçar o gosto pela leitura! E um bocadinho orgulhosa, confesso... Muitos beijinhos e volta sempre!

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Amélia disse...
    Obrigada opelas referências e também pelas que são feitas nos comentários á minha pessoa.É bom ser professor quando somos assim lembrados.Gostava de saber quem és e quem é a tua irmã.Já agora quem é darkside of the moon.Podem enviar-me mail?
    ameliapais02@gmail.com

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