Há já algum tempo que queria escrever um bocadinho sobre isto, mas por ser um assunto tão delicado andei a pensar nele e a adiar o post. A verdade é que não me consigo decidir, vejo argumentos bons de ambos os lados e ainda não sei o que vou fazer no dia do referendo.
Sei que existem gravidezes indesejadas, que há mulheres que não nasceram para ser mães, que há famílias que não podem sustentar mais filhos, que há mães adolescentes que deviam de estar a brincar com bonecas e não a cuidar de um bébé verdadeiro. É um facto que o aborto clandestino existe, que há "profissionais de saúde" (ou não) a encherem os bolsos à custa do aborto, que muitas vezes fazem um mau trabalho e chegam a matar ou esterilizar as mulheres que se submetem a esta intervenção. Tenho consciência de que os processos de adopção são lentos, que os lares de acolhimento das crianças são muitas vezes frios e violentos, que às vezes estas crianças preferiam não ter nascido.
Mas a lei actual (apesar de eu não ser muito conhecedora da lei...) já prevê e protege as mulheres que são violadas, por exemplo. Dá a possibilidade ao casal de escolher pôr fim à gravidez se o feto tiver um mal-formação, por exemplo. Tudo dentro da lei e nos hospitais públicos, que não sendo os melhores do mundo são certamente melhores do que as pseudo-clínicas (muitas vezes garagens) de aborto clandestino.
Mas o movimento pelo Não também tem razão. Despenalizar o aborto? Tornar possível o assassínio de um ser antes deste ter sequer nascido? Banalizar uma intervenção cirúrgica que tem riscos para a mulher ainda que feita legalmente? Não seria isso o mesmo que dizer que a vida humana não tem valor? Quem sabe o que essas crianças que são impedidas de nascer fariam se tivessem tido oportunidade... Crenças religiosas à parte, existem hoje em dia inúmeros métodos anticoncepcionais, alguns deles muito eficazes, como por exemplo a pílula anticoncepcional feminina que garante 99.99% de hipóteses de sucesso. A sociedade de informação em que vivemos tem contribuido cada vez mais para que o sexo não seja tabú, mas também para que as pessoas saibam agir conscientemente na sua vida sexual. Os media, as escolas, os pais (na sua maioria, claro...) passaram a ter um papel fundamental na formação sexual dos adultos do futuro, e não explicam só que devemos estar descomplexados no nosso comportamento sexual, mas também maneiras de evitar a concepção (já para não falar nas DSTs) para evitar chegar ao ponto em que só abortar parece ser a solução. Agora, até depois do mal estar feito, existem pílulas do dia seguinte à venda sem receita médica! ( o que também não é nada aconselhável, mas sim uma solução de recurso quando todas as outras aparentemente falharam). Consultas gratuitas de planeamento familiar, distribuição gratuita e anónima nos centros de saúde de métodos anticoncepcionais, campanhas de formação e sensibilização para as questões contraceptivas, aulas de educação sexual, gabinetes de apoio aos adolescentes, linhas telefónicas de apoio à sexualidade, festas cujo público alvo são os jovens e onde se atiram preservativos pelo ar, Internet, livros e panfletos, enfim, um sem número de fontes de informação para quem realmente não quer ter filhos para já (ou nunca).
Por isso me sinto tão dividida e não sei o que escolher. Sim ou não parece-me muito definitivo. Não dá para porem no boletim de voto um "talvez", ou um "depende-dos-casos"?
Outra questão... então e os médicos? Não têm uma palavra a dizer? Fizeram um juramento em que se comprometem a salvar vidas e agora o Estado põe a hipótese de os pôr a truncar vidas que ainda nem sequer começaram realmente, ou será que já começaram? Vai haver decerto objectores de consciência...
Só tenho algumas certezas: deve ser uma decisão do casal e não só da mulher; deve ser um recurso utilizado apenas em último caso; nenhuma mulher faz um aborto porque gosta ou porque lhe apetece; mesmo que seja despenalizado até às 10 semanas não vão deixar de haver abortos clandestinos; só a consciencialização e formação pode resolver este problema.
E por favor, VOTEM!! Se não daqui a uns anos temos de ir lá outra vez...
Só falta aqui uma questão:
ResponderEliminar- Achas bem uma mulher ser presa por abortar???
Na minha opinião, se só o faz a muito custo e em ultima instância, é obvio que não deve ser presa!
E ainda por cima deve poder ter o direito de processar o médico (ou o merceneiro) ou o Hospital em caso de negligência!
É aqui que reside a questão fundamental deste referendo mas o mass media e as outras entidades/movimentos ditas interessadas em esclarecer a população não o fazem convenientemente!
Eu tb não sabia o que votar...
Ass. Mana
Acho que uma mulher que aborta só porque sim deve ser presa como qualquer outra pessoa que decida matar alguém. Acho que já não há desculpas para engravidar sem querer. Tu mais do que ninguém devias saber isso. Tanta gente que quer filhos e não consegue...
ResponderEliminarRita não acrescento muito ao que disseste,concordo..compreendo e revejo-me o teu ponto de vista. è uma decisão dificil...acredito que ninguem a faz só porque sim...acredito que não é facil para ninguem fazer..Formação...e Contracepção...e falar ..muito e abertamente sobre sexo com o parceiro com os amigos...com o ginecologista... não vale a pena correr o risco...
ResponderEliminar